domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lula Gonzaga – Redescobrindo o Brasil com muita animação

Aos 15 anos, o pernambucano Lula Gonzaga se encantou com o cinema e hoje é a principal referência da cinematografia de animação do Brasil. Comunista, cineasta, disseminador da arte de animação no Norte-Nordeste, defensor da política de Pontos de Cultura como forma de empoderamento dos movimentos sociais. Lula Gonzaga será homenageado no Cariri – Estado do Ceará com Mostra de Animação que levará o seu nome e será realizada pelo Coletivo Camaradas em 2011.

Alexandre Lucas - Quem é Lula Gonzaga?

Lula Gonzaga - Pernambucano, cineasta de animação onde iniciou sua trajetória no desenho animado em 1971. Realizou sete curtas-metragens nas mais variadas bitolas: Super-8, 16mm, 35mm e em vídeo. Coordena o Ponto de Cultura Cinema de Animação e o Pontão de Cultura Cine Anima em Pernambuco. O nosso Ponto é principalmente um projeto itinerante que percorre todo o país realizando oficinas e mostras de animação em especial nas regiões Nordeste e Norte, já realizamos etapas também em outros países.
Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Lula Gonzaga - Aos 15 anos quando entrei pela primeira em uma sala de cinema de bairro no Recife, decidi que iria trabalhar com cinema. Aos 18, no final dos anos 70, fui para o Rio de Janeiro e 1971, comecei minha carreira profissional na PPP Produtora francesa no bairro da Glória.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Lula Gonzaga - Várias, partindo das salas de exibição onde assisti vários filmes de animação da Disney, a produção francesa e checa pois havia amigos que tinham estes filmes em Super-8, fundindo com as influências do grafismo regional da xilogravura, da literatura de cordel que observava nas feiras e mercados públicos, dos bonecos de barro de Caruaru que comprava para brincar, dos mamulengos e da música regional de Luiz Gonzaga etc.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Lula Gonzaga - O ser humano não suportaria a vida sem a música, sem o cinema, sem a pintura, é inerente a condição humana, e tudo que diz respeito ao ser humano passa pela política, desde o preço do pão, a educação, a saúde, os rumos de uma nação, então todos precisam da arte e da política, não tem como separar, você pode não fazer política partidária, mas a política no sentido amplo está intrínseca a cada pessoa.

Alexandre Lucas - Contextualize a produção de animação no Brasil ?

Lula Gonzaga - A animação no Brasil como em todo o planeta está em momento de expansão, a animação está em todos os lugares: no cinema, na TV, na Internet, no celular. No Brasil, a animação sempre foi marcada pela dominação da indústria americana que monopoliza todos os canais de comunicação com o público, começando nas salas de cinema, na TV, agora na Internet, no celular e em todas as novas mídias que surgem. Em função desta dominação, a animação exibida no país sempre muito focada no público infantil, pois é onde começa a funcionar a “lavagem cerebral”, crianças a partir dos 2 anos de idade são alienadas pela produção exibida pelas “xuxa´s” e Cia. Trabalhando sem cessar nas cabeças dos nosso filhos para formar os novos aliados e futuros consumidores dos shoppings, delivery, Coca-cola, fost food etc. Hoje com as salas de exibição alternativas e em especial a internet, os jovens começaram a descobrir as produções de outros países que produzem filmes também para crianças e para outras faixas etárias em especial para a juventude. Com a chegada dos vídeos-games, vídeos clips e animação para celular, além do acesso às novas tecnologias digitais que barateiam e fazem com que um jovem possa realizar sua animação e finalizar em um computador simples, a animação entrou de vez na juventude, que enxerga também uma oportunidade de mercado de trabalho. Grande parte das empresas de produção de animação opera com equipe de jovens, hoje o Brasil produz uma grande quantidade de filmes de curta e longa-metragem, séries para TV, animações para comerciais, vídeos-games. Nossa produção atual além de muito diversificada em gênero e estilo também está espalhada pelo país inteiro, temos núcleos funcionado em São Paulo e Rio, também no interior de São Paulo, no Rio Grande Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo em Minas, Brasília, Goiás, em Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Rondônia e Amazonas.

Alexandre Lucas - Quais as dificuldades que você encontrou no início de sua carreira?

Lula Gonzaga - No início o maior complicador era de o país ter uma produção muito pequena, basicamente reduzida aos comerciais para TV e fixada exclusivamente no eixo Rio-São Paulo. A grande dificuldade de assistir os filmes de diferentes países como ainda acontece hoje. Não havia nenhum instrumento de fomento, como os editais que existem hoje.

No meu caso tive sorte pois em 1981 a CAPES/MEC acertou um convênio com a Embrafilmes para a parceria de um projeto de 3 bolsas de estudo para animação no exterior, 3 vagas para todo o país e eu peguei a vaga do Nordeste e fui estagiar na Croácia e República Checa o que me deu um outra dimensão do universo da animação no planeta.

Alexandre Lucas - Ainda consumimos muita animação de outros países? Como você vê produção de animação no Brasil e o monopólio da Mídia?

Lula Gonzaga - Claro, e sempre vamos consumir o desenho de outros países. A questão é que basicamente só consumimos a produção dos Estados Unidos da América e uma parte menor da produção comercial japonesa. Temos que abrir nosso mercado para a produção de todos os países, para que nossas crianças e jovens possam conhecer as diferentes culturas, isto é essencial. E para exibir as nossas produções, durante muito tempo, nem mesmo a turma da Mônica era exibida nas nossas TVs! Também é necessário abrir os espaços para a produção brasileiras nos cinemas e TVs para os outros países. Hoje a animação nacional está no mesmo nível de qualidade da produção dos países produtores mais avançados, as animações importadas geram bilhões de dólares, citamos por ex. Bob Esponja, no ano de 2008 rendeu 1 bilhão de dólares em licenciamento, com a venda de bolsas, sapatos, cadernos etc. O mercado não brinca em serviço! A discussão agora é cultural, pois trata da afirmação da nossa identidade como povo, de economia e tudo passa é claro por decisão política.

Alexandre Lucas - A circulação é um dos desafios para democratizar a produção de animação no Brasil?

Lula Gonzaga - É o nosso grande gargalo, como estamos completamente dominados pela engrenagem de distribuição nas grandes mídias optamos, por falta de força política, operar pela beirada, nos Festivais de Audiovisual, nos diversos projetos de exibição itinerantes, nas TVs públicas como a TV Brasil e a TV Cultura, nos Cines Clubes, nos Cines+Cultura, na Programadora Brasil etc. São muito importantes os meios de acesso a produção brasileira, mais ainda estamos muito longe de chegar aos grandes sistemas de comunicação.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Lula Gonzaga - Nosso trabalho sempre foi focado na cultura brasileira em especial nas regiões Nordeste e Norte, sempre trabalhamos com formação, produção e difusão. Toda nossa equipe é de jovens que foram formados no próprio projeto, todas as nossas oficinas sempre foram com jovens alunos das escolas públicas e as exibições do cinema itinerante ou de cineclube sempre priorizamos as cidades sem ou com muito poucas salas de exibição para comunidades sem acesso a este importante veículo de comunicação de massa e divulgação da nossa cultura.
Alexandre Lucas - A atual conjuntura política no campo da cultura tem contribuído para ampliar a produção e circulação do cinema de animação no Brasil?
Lula Gonzaga - Sim e muito, na era Lula / Gil estivemos no melhor momento da nossa produção e acesso à cultura, em especial com o programa Cultura Viva que tem como locomotiva os 2.500 Pontos de Cultura funcionando no país, nos diversos editais para a produção audiovisual, na SAV - Secretaria de Audiovisual - que incluiu editais específicos para animação e nos avanços dos Cineclubes, da Programadora Brasil e nos cinemas itinerantes
Alexandre Lucas - O Coletivo Camaradas realizará em 2011 a “Mostra de Animação Lula Gonzaga” o que isso representa para você?

Lula Gonzaga - O Nordeste do país, hoje tem uma importante produção de Animação que o público da nossa região ainda não teve a oportunidade de conhecer.

A Mostra que vamos realizar com o Coletivo Camaradas, será uma oportunidade para prestar contas a sociedade do que estamos realizando com os recursos públicos em nosso Ponto de Cultura, vamos apresentar como funciona o nosso processo de formação, de produção e de difusão do Cinema de Animação que atua nas regiões Norte e Nordeste, nesta Mostra apresentaremos um painel através da exibição dos filmes e vídeos produzidos no nosso projeto, buscando permitir o acesso a cultura cinematográfica, a informação, abrir novas oportunidades no mercado de animação, a troca de idéias e a busca de novas parcerias.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Roberto Siebra - O ajudante de pedreiro que se fez doutor

Filho de merendeira e marceneiro, Roberto Siebra tem uma história de vida que orgulha os filhos da classe do proletariado deste país. Quando menino vendeu pão picolé, inventou de ser engraxate, já adulto foi ajudante de pedreiro e atualmente é professor doutor da Universidade Regional do Cariri – URCA. Siebra foi perseguido na sua juventude por causa da sua militância política e é uma das figuras históricas do Partido Comunista do Brasil na Região do Cariri por ter ajudado a construir o partido no período da semi-cladestinidade.

Alexandre Lucas - Quem é Roberto Siebra?

Roberto Siebra - Um rapaz nascido e criado no bairro do Seminário, no município do Crato, tendo uma bela vista do Sopé da Chapada do Araripe, filho de uma merendeira de escola pública e de um marceneiro, casal que criou seus 4 filhos de forma honesta e ética, ensinamentos estes que até os dias atuais tomo como guia nas ações que pratico no cotidiano.


Alexandre Lucas - Como teve início o seu contato com o Partido Comunista do Brasil – PCdoB?

Roberto Siebra - O meu contato foi no inicio da década de 80, quando na oportunidade participava dos movimentos de juventude existentes no nosso município. Naquele período o Brasil vivia os dias finais da ditadura militar, com grandes manifestações da sociedade civil e política participando de milhares de movimentos pela liberdade e pela democracia. Foi em um destes momentos que conheci o PCdoB, ainda na clandestinidade.

Alexandre Lucas - Você teve um trabalho importante na construção do PCdoB na região do Cariri, no tempo em que o partido ainda vivia na clandestinidade. O que foi ser comunista neste tempo?

Roberto Siebra - Lembro bem que neste período éramos obrigados a termos nomes falsos, o meu era Mauricio, e as reuniões eram feitas obedecendo a várias regras de segurança, entre as quais, a de nunca exceder o numero de três pessoas, não fazer anotações, não se reunir sempre no mesmo lugar, etc.

Foi um período muito difícil para mim, então com 17 anos, que tive que trocar vários prazeres da juventude, pela prática política semi-clandestina. Significou por um bom tempo ter que mentir para família (Ex. varias vezes tinha reunião em Fortaleza e ai dizia que íamos para um encontro religioso, uma viagem de ferias, etc.)

Significou também enfrentar um grande preconceito de pessoas e instituições, e como exemplo lembro um episodio que mim marcou profundamente, a solicitação, na época de pessoas da Igreja Católica exigindo que retirasse do movimento de juventude, pois isto podia prejudicá-lo, etc.

Outro exemplo marcante foi a minha expulsão do Colégio Agrícola do Crato, depois de ter sido arrombado o meu armário e retirado alguns pertences, entre os quais alguns documentos tidos como subversivos. Mas, nada disto nos tirava a certeza de que o novo sempre vem, como diz o poeta Belchior. E, poucos anos depois, pudemos comprovar isto na prática com o fim da ditadura militar e o retorno a um país democrático.

E como as coisas mudaram, sinto feliz em ter dado esta contribuição. Esta é a melhor coisa que tenho, é o meu bem mais precioso, que deixo aos meus filhos, meus netos e próximos da minha geração. Dizer-lhes e provar-lhes que ajudei a construir um país livre da opressão e da miséria, tarefa que ainda continuo até hoje e pretendo levar até os dias finais de vida.

Alexandre Lucas – Quais eram os desafios?

Roberto Siebra - O grande desafio da época era combinar o trabalho semi-clandestino com o trabalho legal, mas o grande trabalho era organizar o combate a Ditadura Militar, daí tínhamos uma grande participação no movimento secundarista e de bairros.

Alexandre Lucas – Você vem da classe operária e teve uma vida sem facilidades. Antes de receber a titulação de doutor foi servente da
construção civil.

Roberto Siebra - Desde cedo aprendemos a lição reservada aos filhos das classes pobres – TRABALHAR. Comecei vendendo pão, depois picolés e até, sem muito sucesso tentando ser engraxate. Depois fui contratado por uma construtora para trabalhar nas casas populares, inicialmente como servente e depois, por conta de algumas facilidades, ascendi para apontador. Infelizmente esta carreira na construção civil durou pouco, pois ao descobri que tinha uma militância política e na obra estava tentando sindicalizar alguns funcionários, fui demitido.
Consegui emprego junto aos trabalhadores em transportes rodoviários, passando a atuar especificamente no sindicato dos trabalhadores desta categoria por um longo tempo, e ao sair fui ser Agente de Saúde no Crato, sendo posteriormente conduzido ao Sindicato Estadual dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde.

No decorrer da minha vida sempre mim virei para conseguir trabalho, mas o que é fundamental que nunca larguei os estudos. Mesmo tendo que trabalhar, conclui a minha graduação em História na Faculdade de Filosofia e fiz duas especializações na UECE, o que mim qualificou a trabalhar inicialmente na URCA como professor colaborador sendo contratado como professor efetivo, em decorrência de ter passado no primeiro concurso publico promovido por esta instituição. Foi uma das maiores alegrias da minha vida e da minha família.

Dentro da universidade, e com muita dificuldade lutei para conseguir galgar a patamares maiores. Afirmo com orgulho que eu sou um destes casos excepcionais numa sociedade como a nossa que reservou os melhores lugares sociais, políticos e econômicos, para as classes dominantes e abastardas. Imaginar que uma pessoa que teve a minha origem e história chegar a um dos maiores títulos acadêmicos em uma universidade brasileira – SER DOUTOR.

Alexandre Lucas – Essa sua trajetória é marcada por momentos difíceis?

Roberto Siebra - É verdade, aminha vida não foi nem é fácil. O importante nisto tudo é como enfrentamos e resolvemos estas dificuldades e tomei a decisão de enfrentá-las através de muito trabalho, de ser sincero, honesto e ético. Principalmente de nunca esquecer minha origem e em especial o esforço que o meu pai e mãe (Cristovão e Altina) fizeram para chegar aonde cheguei. Sem meus genitores, não estaria onde estou hoje e a eles dedico todas estas conquistas.

A esta trajetória gostaria de tirar uma lição aprendida na prática, por mais difícil que seja a vida, podemos conseguir sair vitorioso, mas isto significar ir a luta e não só ficar em casa se lamentando ou criticando os outros. Eu sou a prova viva disto.

Alexandre Lucas – Antes você ajudava a construir prédios e hoje ajudar a construir consciências?

Roberto Siebra - Esta é maior tarefa que existe e que enfrento. Construir consciências é um prédio muito difícil de levantar, até porque nunca estará concluso, sempre terá um andar para subir, o que exige um cotidiano de práticas e compromissos. Na construção das consciências existem dois fatores importantes, de caráter objetivo e subjetivo. O primeiro está relacionado como a pratica da educação formal e informal e o fator subjetivo engloba outras situações, muito difíceis de enfrentar numa sociedade onde o valor supremo é o dinheiro e o poder material, em detrimentos de outros valores éticos e morais transformados em moeda de troca no mercado de ações capitalistas.

Construir consciência significa construir um novo mundo calcado em valores supremos de dignidade e respeito aos valores fundamentais dos seres humanos. Significa em primeiro lugar acabar com a fome a miséria da maioria de nossa população.

Alexandre Lucas – O que significa a educação para você?

Roberto Siebra - Um passo importante, mas não o único, para iniciarmos o processo da construção de nossas consciências, um aliado fundamental para darmos dignidade a pessoa humana, e um instrumento valiosos na construção de uma ova sociedade. Não podemos prescindir do papel da educação como essencial no processo de produção e transformação das riquezas materiais, ou melhor dizendo, alavanca fundamental no avanço das forças produtivas e conseqüente mudança das relações sociais.

Alexandre Lucas – Existe uma crença de que a educação fará a revolução. Você acredita nisso?

Roberto Siebra - Não acredito que educação faça revolução até porque se isto fosse verdade os professores seriam agentes altamente revolucionários e aqueles que tem mestrado e/ou doutorado seriam seus lideres. E a realidade é bem diferente, pois a história mostra que este segmento nunca foi capaz de avançar ou liderar processos revolucionários significativos, ficando sua participação política restrita a lutas especificas, como melhoria salarial, etc.

É bem verdade que a educação formal pode ser um componente importante no processo de transformações de uma sociedade, mas se isto for acompanhado de um processo de conscientização política que ocorra em outras arenas da vida.

Alexandre Lucas – Qual o seu papel enquanto professor?

Roberto Siebra - O mesmo que tinha quando estava na fabrica, contribuir para a construção de um mundo melhor. Não mudou nada o fato de ser professor no que diz respeito ao meu papel, só o terreno da prática, pois é mais difícil ser professor universitário do que ser operário. O palco é diferenciado com grande predominância da vaidade e da falta de humildade, fatores que impedem que vejamos as outras categorias como parceiras e que exercem um papel fundamental na construção de uma nova realidade


Alexandre Lucas – O índice de analfabetismo em Cuba é baixíssimo. Quando você esteve em Cuba pode perceber diferenças no sistema educacional brasileiro?

Roberto Siebra - Tenho viajado muito, Europa, América Central e mais recentemente vários países da América Latina e isto mim fez ter muito cuidado na hora de fazer avaliações sobre as realidades especificas de cada país. São contextos históricos, sociais e políticos completamente diferentes dos nossos e temos que levar isto em consideração sob pena de cometermos erros de avaliação.

O caso cubano é mais complicado porque temos que levarmos em consideração um fator importante na construção histórica deste país, refiro-me a tentativa deste povo construir uma nova sociedade diferente daquela que estamos acostumados e que tem como base a mercantilização das relações. Isto é diferente e vai de encontro a falsa realidade que permeia a maioria da humanidade construída principalmente pelas classes dominantes dos grandes países imperialistas modernos, especialmente os Estados Unidos.

Não precisamos aqui fazemos nenhuma apologia a realidade cubana, pois os dados estatísticos referentes a conquistas sociais, nos quais está inserido a educação, são provas cientificas da vitalidade do sistema e dos grandes avanços conseguidos por este povo. É bem verdade que existem grandes problemas a serem enfrentados e vencidos e isto tem sido uma pratica cotidiana deste povo.

Alexandre Lucas - O seu doutorado é em Sociologia e sua tese tem como título: Os subterrâneos do poder: corrupção e instituições de controle no Estado do Ceará. O que você pode concluir a partir desta pesquisa?

Roberto Siebra - São varias as conclusões, mas especialmente, no que se diz respeito a corrupção podemos afirmar que é um fenômeno histórico, datado e não natural como afirma o senso comum. Isto significa dizer que esta pratica política, assim como teve inicio pode ter fim.

A corrupção é uma prática política de poder relacionada às elites dominantes que sempre a usaram como forma de manter os seus privilégios, motivo pela qual persistem nas instituições governamentais.

Outro fator importante diz respeito a relação entre corrupção e democracia, na medida em que esta ultima pode ser um antídoto poderoso para combater esta pratica ilícita.

Alexandre Lucas – No final do ano passado você vez uma aventura pela America Latina que lembra o revolucionário Ernesto Che Guevara. Como foi essa experiência em conhecer os países vizinhos como mochileiro?

Roberto Siebra - Estive recentemente na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, conhecendo estes lugares, seu povo e historia de uma forma que lembra Guevara.Mas apesar de ter adotado a mesma forma de conhecimento, isto é, usar meios alternativos para esta aventura, nunca tive a presunção de imitar o comandante, até porque isto seria impossível, por vários motivos. Foi uma viagem de conhecimento, já que tive acesso a povos, culturas e costumes em tempo real, sem intermediários, vivenciando o cotidiano de nossos irmãos latino americanos. Isto é fundamental para o aprendizado de um cientista social de profissão e de coração que acredita que a busca do conhecimento tem que ter dois pilares inseparáveis: a teoria e a prática.

Todo este roteiro foi feito a pé, de bicicleta e de ônibus, seguindo um projeto que foi pensado por cerca de 10 meses e que foi finalmente concretizado, com todos os percalços que uma empreitada desta pode oferecer, inclusive risco de vida. Certamente foi uma das maiores aventuras de minha vida e mim impulsionou a transformá-la numa rotina a ponto de esta já planejando uma próxima

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Documentário sobre Reisado do Sassaré começa a ser gravado

O quinto documentário do Projeto “No Terreiro dos Brincantes” registrará o reisado de caretas de Potengi, mais conhecido como o Reisado do Sassaré, liderado pelo Mestre Antônio Luiz. O Reisado de Caretas ou de Couro é um dos poucos da região do Cariri.

Os brincantes do Reisado usam máscaras confeccionados em madeira e couro para dançar ao ritmo da música que é marcada por pisadas fortes. De acordo com o Mestre Antônio, o acervo de máscaras vem desde a criação do grupo quando ele ainda tinha 18 anos, atualmente o mestre tem 54 anos.

As primeiras gravações aconteceram no ultimo sábado, dia 12, na casa do Mestre numa descontraída e produtiva conversa. As próximas gravações terão continuidade no dia 19 deste mês, aonde serão feitos os registros das danças e entremeios.

O projeto “No Terreiro dos Brincantes” é uma iniciativa da Universidade Regional do Cariri – URCA, através da Pró-Reitoria de Extensão – PROEX, Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC e tem a parceria do Coletivo Camaradas. Para a produção desse documentário a Prefeitura de Potengi também entrou na parceria. O projeto tem como objetivo produzir pequenos documentários sobre as manifestações da cultura popular mostrando além dos aspectos artísticos e estéticos, o contexto social aonde acontecem às brincadeiras. O material é um importante recurso pedagógico para ser usado em sala de aula e uma importante fonte de pesquisa para pesquisadores da área.

Documentários já produzidos:
Mulheres do Coco
Mestra Zulene Galdino
Reisado Dedé de Luna
Mestre Círilo

Serviço
Para adquirir os documentários solicite por escrito cópias na PROEX/URCA
Campus Pimenta

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Daniele Esmeraldo – Quando a gestora é uma artista



A coreografa e bailarina Daniele Esmeraldo a frente da Secretária da Cultura, Esporte e Juventude possibilitou uma nova dinâmica na gestão de políticas públicas e de eventos na cidade do Crato. Com apenas cinco anos ela conheceu o universo das artes e uma das pioneiras na dança contemporânea na Região do Cariri.


Alexandre Lucas - Quem é Daniele Esmeraldo ?

Daniele Esmeraldo - Cratense,orgulhosamente.Sagitariana,nascida em 03 de dezembro, mãe aos 14, de duas filhas encantadoras,filha de pais inigualáveis, descendente da Família Esmeraldo, da qual tenho muito orgulho. Não me considero nenhuma intelectual; Mas idealista, persistente, que gosta de criar e realizar; Tenho na minha essência o amor pela arte, pela dança,e a ela, minha gratidão por muito do que sou hoje. Muitos desafios e obstáculos vencidos, numa sucessão de acontecimentos, que engrandeceram minha forma de ver e viver a vida!!! Hoje tenho uma missão maior, de cuidar, e proporcionar o bem-estar material e espiritual de muitas pessoas; Bailarina, coreógrafa, diretora, produtora, pedagoga, professora, que disseminou a dança na região do cariri, e na educação, inovou com a Dança na Escola, através da arte-educação, utilizando a arte e o lúdico como meio facilitador da aprendizagem cognitiva.

Atualmente, gestora com muita honra e mais responsabilidade ainda, de uma pasta fascinante, que é a Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude do Crato, que em muito me dá prazer em geri-la, mesmo que ainda com algumas limitações.... mas, quando a gente ama, a gente cuida!E eu amo a Arte, a cultura e a vida!

Sou uma pessoa que busca no dia-a-dia, o aprimoramento e a elevação espiritual, tendo sempre em mente, o princípio“ O Espírito é o principal, a Mente obedece e o Corpo acompanha, além de trazer para bem perto de mim, o treinamento da gratidão, humildade e obediência, buscando caminhar pelos trilhos e pelos caminhos que me levem a aproximar-me cada vez mais de Deus! Sou feliz, porque amo e me sinto amada!

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Daniele Esmeraldo - Enveredei pelo caminho da arte, aos cinco anos iniciando com aulas de acordeom. Um ano depois fiz aula de piano, canto coral, no tão mágico Pequeno Coral, da Sociedade de Cultura Artística do Crato. Paralelamente e felizmente, iniciei meus primeiros passos aos 6 anos, com aula de ballet, jazz e sapateado, na Academia de Danças Silvia, a Pioneira da região, minha grande mestra! Aos 13, assumi a direção de um espetáculo, no dia do ensaio geral, em substituição à minha diretora, Silvia, que saiu para cuidar de sua filha que estava prestes a dar a luz!! Aquela foi a minha primeira experiência em direção.... Imaginem, uma menina, dirigindo mais de 200 bailarinos entre crianças e adultos, iluminadores, cenógrafos, sonoplastas.... kkkkk, ainda bem que deu tudo certo! A minha primeira Academia foi criada aos meus 16, em Barbalha, e aos 17, A Corpo e Movimento se instalava no Crato, com o apoio incondicional dos meus queridos pais, que acreditou no meu trabalho. Durante mais de 11 anos, foram desenvolvidas atividades na área de dança, teatro, produções artísticas e culturais. Foi também, nessa época que se deu o início do Grupo de dança Corpus x Corpus.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Daniele Esmeraldo - Os primeiros passos me foram ensinados pela Pioneira da dança no Cariri, Inês Silvia, na trajetória de 12 anos de aula, eu passei por vários mestres, como Vera Passos, Lucinha Machado, Cláudia Pires, Mário Nascimento, Valéria, hoje da Cia. Vatá( sapateado) e na pesquisa e inspiração, claro a magnífica Pina Baush,Rodolflaban, Débora Colker, Grupo Corpo, kaiser Cia. de Dança.



Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?

Daniele Esmeraldo - Como já citei acima, iniciei minhas primeiras experiências profissionais aos 15, em Barbalha, com a criação da Academia Som e Fantasia, durante um ano....esse foi um dos períodos que mais me esforcei para me especializar e profissionalizar. Há, mais antes disso, já dava aula na Academia que estudava, para alunas de Baby Class.Com 12 anos, já ganhava meus primeiros trocadinhos. Em 1988 inaugurei no Crato a Academia Corpo e Movimento, realizando 11 Festivais de Dança, nas categorias infantil e adulto, somando na verdade não 11, mas 22 espetáculos.... pois, eram 2 atos em 1. Ballet, Jazz,Dança Cigana, Mambo, anos 60, sapateado, Contemporâneo, foram ritmos que fizeram parte do nosso conteúdo e que se espalharam pela cidade, não só nos Festivais, mas em desfiles, aniversários, e eventos sociais, dançando inclusive na EXPOCRATO, num momento de intervenção inédita, quando a dança contemporânea, invadiu a maior festa popular, atraindo os olhares do público, que parou pra observar, aquela arte não muito conhecida ainda. Foi uma grande experiência. Passei mais ou menos, três anos para conquistar o reconhecimento do meu trabalho, por ser muito nova, as pessoas não acreditavam muito na minha capacidade. Dançávamos em chão batido, coreografava de graça, sem remuneração nenhuma... mas sempre lembrando ao grupo de bailarinos, que um dia poderíamos ser reconhecidos! Hoje, já posso me orgulhar dessa trajetória, e dizer que os conhecimentos adquiridos ao longo das experiências vividas, em sua maioria, me foram oportunizado pela dança. Todo o esforço sincero em contribuir para a cultura da minha cidade, talvez tenha repercutido na escolha do Prefeito Samuel Araripe e da primeira dama Mônica Araripe, em me confiar a gestão da Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude, o que me enche de orgulho, pois, como filha do Crato, sei do grande potencial e celeiro cultural, que está sob nossa administração. É muita responsabilidade também!

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Daniele Esmeraldo - Vendo política como um caminho para a idealização, construção e realização de ações para o bem comum de um povo, ou de um determinado grupo social, e vendo um politico como aquele que tem a vocação para cuidar de um coletivo, e fazendo um paralelo da política com a arte, vejo que através dela, se manifesta desejos, se busca o equilíbrio, se encanta a vida, ideias são externadas, vidas são mudadas. Por tudo, a arte também é um majestoso caminho para transformar, propor, insultar e até mesmo denunciar. A arte não pode ser mais tão subjetiva, creio que devemos usar os palcos, a música, as telas e telões, também como uma ferramenta de mudar e transformar o mundo. Como vejo ainda, o artista como um grande político, que acopla pessoas, através do seu talento, sendo o grande gestor de sua arte.

Alexandre Lucas - Hoje a dança contemporânea está bastante difundida. Você foi uma das pioneiras neste estilo de dança no Cariri. Fale deste trabalho.

Daniele Esmeraldo - Quando iniciei as aulas de ballet, me sentia presa, aos passos que só doíam, mas que foram estritamente necessários para a técnica e o aprimoramento dos movimentos da dança. Logo veio o jazz, que já era mais solto, mas o que me encantou mesmo foi poder aproveitar e utilizar a técnica do ballet, os passos soltos do jazz, juntamente com o início do trabalho de próprio de percepção e criatividade que a dança contemporânea nos remete. Inspirei-me e estudei as técnicas desse estilo inovador, tendo a grande Pina Baush, como responsável pela minha afinidade ao contemporâneo, estilo esse, que nos faz interagir consigo e com o nosso meio. E para estreitar ainda mais a grande relação com o contemporâneo, vale ressaltar, tive o grande privilégio e a grande honra, de dançar em terras cratenses, no auditório da URCA, para Ela, Pina Baush, a maior sumidade da dança contemporânea do mundo, em sua visita ao Cariri, é mole?. Um presente proporcionado por meu mestre, doutor, Fábio Rodrigues, à nossa Companhia o Grupo CorpusXCorpus, com o espetáculo Beatos. E hoje o contemporâneo invadiu o mundo, e como não o Crato, o Cariri.

Alexandre Lucas - A dança contemporânea exigi um estudo da realidade?

Daniele Esmeraldo - O contemporâneo busca aproximar o homem sim da sua realidade.Foi com a idéia de estreitar o relacionamento do homem com o mundo, de vivenciar, sentir e se autodescobrir, que se iniciou essa maravilhosa forma de dançar. A dança contemporânea não se define em técnicas ou movimentos específicos, pois o intérprete/bailarino ganha autonomia para construir suas próprias partituras coreográficas a partir de métodos e procedimentos de pesquisa como: Improvisação, Contato Improvisação, propriocepção, Método Laban, Técnica de Release. Esses métodos trazem instrumentos para que o intérprete crie suas composições a partir de temas relacionados a questões políticas, sociais, culturais, autobiográficas, comportamentais, cotidianas como também a fisiologia e anatomia do corpo. Cabe ao coreógrafo, como acontece com todo artista, descortinar sua criação, traduzindo através do movimento, os seus sentimentos e a sua visão de mundo.

Alexandre Lucas - Você costuma dizer que antes de ser Secretária é artista. Qual a importância de uma artista assumir uma Secretária da Cultura?

Daniele Esmeraldo - Lembro-me, ao me levantar para produzir meus Festivais, quando eu exercia quase todas as funções, de coreógrafa, professora, bailarina, diretora, produtora (divulgação, captação de recursos)o quanto eu sentia dificuldades para conseguir recursos. Muito chá de cadeira, muitos nãos.Todos os pingos de suor, se distribuíam pelas salas de ensaio e respingavam no interesse dos patrocinadores em apoiar os Festivais..... salve os empresários da época. Sempre tive o cuidado de me colocar na situação daquele que está ali do outro lado da mesa, que tanto foi e será o lugar no qual estive e estarei. Valorizar cada arte, dar a real importância que merece nossos artistas, e saber que nós somos pessoas perseverantes e que batalhamos muito ainda para realizar uma determinada obra, são sentimentos que me norteiam na forma de conduzir o meu trabalho como gestora da Cultura.

E é com esse sentimento de reconhecer o grau de valor que tem a nossa cultura, em toda sua diversidade, que tento, juntamente com o nosso gestor maior, atender às necessidades dos nossos artistas e da nossa Capital da Cultura, fazendo jus ao seu nome, e me esforçando para dar não o mínimo para o artista, mas o nosso máximo em apoio, estrutura, atenção e valorização. Creio que a nossa sensibilidade e vontade de acertar é maior do que os obstáculos enfrentados!

Alexandre Lucas - Quais os principais desafios a frente da Secretaria?

Daniele Esmeraldo - A resposta não é de se surpreender, recursos, recursos e recursos. Existe uma previsão orçamentária, pelo fundo geral do Município, que não quer dizer, que necessariamente existe o recurso. Somente, com os recursos da Prefeitura, fica inviável promover a cultura, em todos os seus segmentos. Precisamos de muita criatividade e muita dança, para conseguir executar os projetos. Apesar de ter um gestor, que valoriza e acredita no valor e na importância da nossa Cultura, ainda assim, é muito difícil!

Alexandre Lucas - Quais os avanços?

Daniele Esmeraldo - Bom, em princípio, não existia no Crato uma pasta específica de Secretaria da Cultura, bem como Conselho de Cultura, nem Lei Municipal de Incentivo á Cultura, nem Fundo Municipal. Hoje o Sistema Municipal (Secretaria, Conselho, Fundo Municipal) já está legalizado e em pleno funcionamento. Realizamos duas Conferências Municipais, acreditando plenamente no valor de uma gestão participativa, cujo resultado se deu com a elaboração do nosso Plano Municipal de Cultura. Pensando em promover,dar continuidade e fortalecer, vários projetos de políticas públicas foram criados e desenvolvidos, como a EMMA (Escola de Música maestro Azul), cujos frutos já se podem ser reconhecidos, através da Banda Mirim do Crato. A Casa Harmônica (Núcleo de Projetos Sócio-Culturais), idealizados pela Primeira Dama Mônica Araripe,que desenvolve projetos de inclusão e formação cultural, com a participação de mais de 500 crianças, nas áreas de Dança e Teatro, culminando estas na criação da EMCART( Escola Municipal de Cultura e Arte), realizadas no Teatro Municipal, e aulas de Artes Plásticas, Incentivo á leitura e ao desporto. O Festival Cariri da Canção, hoje a maior festa da música que acontece na Região do Cariri. O apoio incondicional à Cultura Popular, que é o que a gente tem de mais rico nessa terrinha cratense. Vários eventos com cunho educacional, histórico, pesquisa, inclusivo e de tradição, são realizados anualmente, como o Desfile das Virgens,Chapada Viva do Araripe,O Abriu Pra Juventude,Cariri Cangaço, Festival Folclórico e Doce Natal,todos eles acontecem com o intuito de aprimorar conhecimentos, difundir, divulgar, valorizar, fazer intercâmbio entre atores, artistas, mestres, músicos, historiadores, crianças e adolescentes. No setor de Museus, foram restauradas as valiosas obras sacras e uma grande parte das Obras de arte, no Museu Histórico e de Arte Vicente Leite. Além de termos o Centro Cultural do Araripe, com a Budega Cultural, O Café Maria Fumaça, A Biblioteca Municipal, e a Galeria de Artes, formando o maior complexo cultural da região, sendo este, nossa casa, nosso palco, nosso chão, nosso teto, onde tudo acontece, um lugar onde se respira a mais pura arte. Alexandre Lucas - O que ainda precisar ser feito para avançar nas políticas públicas para a cultura?

Daniele Esmeraldo - Algo muito importante, creio que a implantação de uma política de Edital própria do Município para que possamos democratizar o acesso aos recursos. Realizar Fóruns, para sensibilizar as pessoas Físicas e Jurídicas para se tornarem amigos da Cultura, fazendo suas doações, patrocínios, para o Fundo Municipal de Cultura. É de extrema importância também, realizarmos ações , ampliarmos e fortalecermos os projetos já desenvolvidos pela Secretaria, descentralizando-os, atingindo não somente na Sede, mas nos bairros mais distantes e nos distritos do Crato, apesar, de já realizarmos algumas ações neles. Ah! Vamos lutar também por nossa sala de Cinema.

Alexandre Lucas - O Ministério da Cultura avançou em termos de ampliar, consolidar e descentralizar recursos públicos para cultura. Você acredita que isso repercute nos Municípios?

Daniele Esmeraldo - Claro que sim. Gilberto Gil, Juca Ferreira, ambos Nordestinos, foram nossos grandes defensores, no que diz respeito á descentralização dos recursos federais, tendo em vista que a fatia maior ou quase todo o bolo de recursos sempre ficavam lá pras bandas do sul. Espero que essa política democrática, com a nossa nova Ministra Ana Buarque, possa dar continuidade e avançar mais ainda. E agora temos mais uma esperança de tempos melhores. Com a aprovação do Sistema Nacional de Cultura, que prevê o repasse de recursos de 2% União –1,5% Estado – 1%Município, que com certeza nos assegurará uma condição maior para a execução de Projetos e Políticas Públicas na nossa Cidade.

Alexandre Lucas - Quais os próximos trabalhos da Secretária?

Daniele Esmeraldo - A nossa prioridade hoje, além de dar continuidade e melhorar todos os projetos já desenvolvidos por essa Administração, é a modernização e aquisição de equipamentos para os Espaços Culturais. Teatro Municipal, Biblioteca Municipal, Auditório do Centro Cultural do Araripe e Museus. Estamos formatando um projeto para trazer o Museu de Arte para a galeria do Centro Cultural da Araripe. E logo, logo, estaremos inaugurando a nossa Rádio Cultural do Araripe, que funcionará no Bairro Alto da Penha, com o programa Alô Rabo da Gata, que será conduzido por crianças e adolescentes daquela localidade. É imprescindível, termos esses espaços em pleno funcionamento, até porque, eu também quero usufruí-los, durante e quando não mais estiver ocupando o cargo de Secretária.

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos artísticos?

Daniele Esmeraldo - Muitas pessoas me param na rua e me indagam a volta dos meus Festivais, talvez elas não estejam acompanhando de perto, e o quanto eles ainda estão acontecendo, e estão muito mais vivos, com o Doce Natal, que é um espetáculo de Arena, a céu aberto, com mais de 200 crianças a cantar, dançar e interpretar. Esse momento ímpar, é também uma grande oportunidade de praticar e propagar a minha dança, junto á crianças dos quatro canto da nossa cidade. Se amar é viver, eu danço a vida. Não consigo sem a dança. Estamos voltando, através da Cia. Municipal Crato de Dança, Cia. Cultural do Cariri e Cia. Mi de Dança, com a produção de alguns espetáculos que já estão em fase de elaboração e criação... Pra materializar, espero que sua entrevista dê sorte Alex (Alexandre Lucas), gostaria de ter condições de estrear ainda esse ano, o Bárbara Mulher (Espetáculo Solo), Caldeirão (Espetáculo de Arena in loco), Mi- (Duo), e aindaRFFSA e Cia.





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A Política excludente de editais da (des)Secult

Por Alexandre Lucas*

As políticas públicas para fomento a produção estética, artística e cientifica no âmbito das instituições governamentais é uma conquista que vem possibilitando a descentralização e democratização dos recursos públicos no país, bem como dando visibilidade e condições estruturais para continuidades, experimentações, circulações e promoção dos trabalhos desenvolvidos pelos feitores da arte, pesquisadores e produtores culturais.

A política de editais é uma forma de barrar o clientelismo e possibilitar formas mais acessíveis para garantir o acesso aos recursos públicos. A partir da década de oitenta do século passado diversas Secretarias Estaduais e Municipais e o Ministério da Cultura vem adotando deste artifício para atender as demandas de solicitação de recursos financeiros.

Como não existe uma legislação nacional, cada localidade vem adotando uma forma particular de conceber as suas políticas de editais, a partir de conveniências e compreensões políticas e de gestão.

No Estado do Ceará esse trabalho teve início no Governo do Tasso Jereissati com a Lei de Incentivo Fiscal para investimento do setor privado na Cultura que ficou conhecida como Lei Jereissati (1995), a lei criou também o Fundo Estadual de Cultura e o Mecenato Estadual, apesar da legislação representar um avanço significativo, ela apontava alguns empecilhos como: dependência do setor privado, somente as empresas de grande arrecadação poderiam “Investir”, isso também criou situações que somente as empresas da capital poderiam participar da Lei por conta da alta arrecadação de ICMS. Ficando dificultosa a inclusão das propostas oriundas das regiões do Estado do Ceará. Sem contar a burocracia para conseguir finalizar um projeto.

Venho analisado, nos últimos anos, que a partir do atual Governo Estadual, vem ocorrendo um processo de aumento da burocracia na política de editais do Estado do Ceará, fator que é contraditório a política desencadeada a nível nacional pelo Ministério da Cultura - MinC e as instituições vinculadas. Enquanto o MinC tem aprofundado a desburocratização na maioria dos editais a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará faz o papel inverso. O MinC analisa em primeiro caso o conteúdo/forma e sustentabilidade das propostas enviadas e por ultimo após aprovação da proposta é que analisada os aspectos jurídicos. Já a Secult dispensa conteúdo/forma e sustentabilidade da proposta enviada para analisar em primeiro plano os aspectos jurídicos como elemento de classificação.

Essa pratica tem gerado uma inversão de lógica e excluído um grande número de feitores de arte e produtores culturais, privilegiando o que poderíamos denominar de “elite dos projetos culturais” normalmente constituída por especialistas na área de gestão e contabilidade. Isso gera alguns complicadores que dizem respeito a tornar a Política de Editais “um bom negócio” como era encarada as políticas públicas para a cultura na época do Governo Neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.

Nos diversos fóruns e nas conferências municipais e estadual da Cultura, uma das questões presentes é a desburocratização das política de editais. Porém, a gestão da Secult tratar as reivindicações e as resoluções das instâncias de participação popular a exemplo da Conferência Estadual da Cultura como amontoado de palavras sem nexo.

Isso é grave, pois representa um despeito a indicação popular de direcionamento das políticas públicas para a cultura. Caso o direito constitucional de indicar, propor e manifestar a discordância, viabilizados pelos mecanismos de consulta a população, como fóruns, plebiscitos e conferencias não tenha importância política e mobilizativa, eles não seriam realizados. Vale ressaltar que hoje temos esses instrumentos consultivos por conta da insistência organizada dos movimentos sociais, notadamente constituído por forças progressistas e em muitos casos ligadas as compreensões políticas das esquerdas.

Certa vez escutei de um “técnico” da Secult em um dos encontros no Cariri a seguinte afirmativa “para desburocratizar teria que mudar legislação”. Essa afirmação é falsa e irresponsável, basta analisar as políticas de editais realizadas pelos Centros Culturais do Banco do Nordeste e pela Fundação Nacional da Arte – Funarte que prossegue a cada ano simplificando as formas de recebimento de proposta e viabilizando que qualquer artista e produtor possa encaminhar seus proposições sem ter que ser “um especialista da área de projetos”. Essas instituições servem como exemplo para citar apenas algumas ligadas ao Governo Federal que utilizam de formas parecidas, a simplificação.

Um avanço tímido e insuficiente ocorreu na descentralização de recursos para as políticas de editais na gestão do Auto Filho a frente da Secult, quando estabeleceu 50% dos recursos para capital e 50% para as demais cidades do Ceará. Isso ainda é insignificante comparado a quantidade de cidades do Estado, mas é um avanço. Porém descentralizar e manter uma visão equivocada, excludente, elitista e despeitosa as indicações, sugestões e reivindicações dos diversos segmentos das artes e da cultura é estabelecer a política de “ouvido de mercador”, ou seja, é não considerar os reclamos de quem produz, conhece, dissemina e sobrevive da produção da arte e da cultura no Estado do Ceará.

Esse discurso pode parecer exagerado, mas é compatível com o que vem acontecendo e reflete questões que não se resumem exclusivamente a política de editais, mas a estrutura que se encontra a Secult, com vários problemas a serem solucionados, que dizem respeito a gestão e ao norte político, é preciso ampliar o quadro de funcionários desta Secretaria através de concurso público e rever as práticas administrativas. São gritantes as reclamações neste sentido recentemente tomei conhecimento de um caso atípico: um proponente teve um projeto aprovado, entretanto não recebeu os recursos para execução e ficou impedido de concorrer a outros projetos. Sabe por quer? Porque, o seu nome constava como inadimplente por não ter prestado contas de um recurso que não recebeu. Esse proponente deverá acionar a justiça contra esse “equivocozinho”.

Acredito que o debate não termina aqui, nem poderia, temos muita lutar para travar e muita gente ainda tem que dizer de que lado samba.




*Coordenador do Coletivo Camaradas, integrante do Conselho Municipal de Cultura do Crato e artista/educador. Comentar esse texto pelo email: alexandrelucas65@hotmail.com